O MELHOR PROFESSOR DA MINHA INFÂNCIA.


Eva Castro

As primeiras aulas da minha infância foi do meu velho professor, foram me dadas pelo meu pai; ensinamentos que trago até hoje comigo.

Que saudade dos meus tempos de criança, e de adolescente. Do tempo em que não havia luz elétrica, a iluminação era a luz de lamparina a querosene. Por incrível que pareça, lembrancas, da palmatória, do cinto empendurado na sala a vista de todos. A palmatória tinha nome, "Maricota". Na escola onde estudava o primário tinha também uma palmatória, nas aulas de matemática quando os alunos erravam as perguntas que eram feitas pelo professor, tínhamos que abrir as mãos para receber o bolo, fazia parte da disciplina na época.

Os únicos meios de comunicação eram cartas, telegramas e o rádio. Lembro que a casa em que tinha um rádio, vizinhos sentavam na calçada a noite para ouvir as notícias.

O livro na época era o Almanaque do Pensamento, pois era o livro que orientava  a posição dos astros. Nas noites em que ia acontecer os "Eclipses lunares", as crianças pegavam uma lata de leite vazia e um pedaço de pau para bater na lata e assim espantar o Eclipse, pois segundo os mais velhos o objetivo era para não queimarem os canteiros de cebola e coentros, assim para as crianças era um divertimento, realizei muito esse ritual. 

As vezes eu dizia papai: O sol é casado com a lua, ele é um homem bonito, ela uma moça suave, bonita e meiga, só tem um problema eles não podem se encontrar. Era para nós, a época em que se vivia, sem meios de comunicação. O professor mandava todos "nós alunos" sentar na sala para recebermos os ensinamentos, cotidianamente, o assunto era o "Sentido da Vida", a lição era tirada da experiência vivida por ele. 

Não havia nota, mais havia exame, todos os dias ao anoitecer sentavamos em volta da mesa para o jantar, depois íamos para a sala conversar sobre as tarefas do dia, e ele com a sua sabedoria custumava dar um objeto  que recebíamos das mãos dele. Inoponadamente em outra oportunidade sem a gente esperar, ele dizia:  "traga para mim o objeto que eu lhe dei tal dia" e falava, meus filhos quem toma de conta dá conta. Não havia competição, tinham a hora de brincar, estudar, trabalhar no serviço que criança podia fazer. O Professor dizia para nós, tudo o que eu fiz foram administrados pela experiência de minha vida, com os ensinamentos do dia a dia.

Escutávamos todos os seus discursos com paciência. Ele  foi o melhor  MELHOR PROFESSOR DA MINHA INFÂNCIA.

Meu pai nasceu em Picos Estado do Piauí - Brasil, em 11 de junho de 1911, seu Pio Rufino, nos contava que na década de 1920, o município de Picos sofreu  por duas vezes a passagem da Coluna Prestes. Os oficiais da Coluna entravam em uma  cidade com o seu bando de revoltosos e requisitavam tudo o que eles queriam, os homens que queriam levar para compor o seu bando tinha que ir não poderia negar, inclusive ele foi levado pelos revoltosos até a propriedade do seu tio, onde eles levaram todos os cavalos, queriam animais velozes para a suas fugas. Seu Rufino consegui escapar do bando fugindo e se escondendo na mata.

O Professor é as histórias vividas por ele em sua juventude, dava conta de sua vinda de Picos para o Maranhão, na década de 1930, em períodos de seca, foram criados os campos de concentração no Ceará para confinar os retirantes, o Maranhão era o único Estado do nordeste que não fazia parte da seca. Ele resolveu vir para o Maranhão, sem destino de qual cidade, iria fixar a sua moradia, era tudo muito difícil, a viagem em lombos de burros, a época já casado, seguiu viagem com a sua esposa, passando meses nas estradas e  acampando para o descanso, aportando no município de Passagem Franca, onde viveu 99 anos de vida, e sua esposa 103 anos.

Ele sempre falava "meus filhos, conto as minhas experiências, os ensinamentos de um homem do campo. Sou o Professor de vocês, sem estudos, mais com muito orgulho. O derradeiro curso da vida do meu velho Professor só teve uma aluna, EU.

Que saudades.


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